26 de agosto de 2012

amores de verão


disputa, soa-vos a alguma coisa? a mim soa-me a coco. cheira-me ao atlântico. disputa é-me o mondego e o tejo.
amores de verão despertam perfeitos romances. ainda que efémeros. mas nos verdadeiros amores de verão, neva. sente-se o frio congelar almas, lutar contra o destino para fazer perdurar o solstício quente.
é incrível como amores de verão podem ser os cantos que nos faltam preencher no baú. amores de verão não correm para a foz, são desertos frios. nadam contra a corrente. amores de verão nunca vêm a calhar. amores de verão vêm sempre em épocas de cheias, quando não nos temos de mãos dadas. os amores de verão não nos descruzam os braços, apanham-nos as mãos desatadas. ainda que só no breve instante que coçamos a cabeça.
estes amores têm as suas en(es)trelinhas. saber vivê-los não é fácil. a vida rege-se pela incógnita do futuro. nestes amores não, sabemos o final. e muitas vezes não nos proporcionamos à felicidade porque vivemos iludidos com o e viveram felizes para sempre. como se isso fosse o protótipo de felicidade. não crescemos ensinados a desfrutar do tempo que dura, mas temos de ir. entrar sabendo o infortúnio da saída. e sim, custa. mas a viagem vale a pena.




é. o meu amor de verão briga contra o atlântico. da minha varanda vejo o tejo. o tejo dos amores. este mondego dos desamores. cheirou-me a coco. cheirava sempre a coco. a vela era a presença assídua. e tal como o seu pavio tem final, também este amor teria. não aguentaria muito tempo. a figueira da foz e lisboa não partilham o mesmo estuário. ainda assim era o teu sorriso que me cofiava o coração. ainda que os teus dentes sejam tortos.
a vela na mesa de cabeceira. sempre.
a tua camisola. cheira a tejo. a que me deixaste. mesmo não me servindo enrolo-me nela quando me lembrava de ti. sem ninguém ver. porque ninguém permitiria que o tejo subisse ou o mondego descesse. são as traições escondidas.

a zona entre mondego e tejo nunca se poderão extinguir para que possamos dar as mãos. nunca. e pelos impossíveis, restam-se implosões. a do mondego e do tejo. ainda que o atlântico nos silencie, nunca nos fundiremos.

apesar de tudo, valeu a pena. amores de verão valem sempre a pena.
amores de verão, repito. não aventuras de verão.
é por isso que ainda hoje o cheiro a coco me desarma. faz-me sentir inerme.