30 de outubro de 2014


ph: alex stoddard

« everybody has a heart. except some people. »
bette davis

25 de agosto de 2014


na ausência, os corpos estranham-se. o andar muda, o cabelo fica mais escuro e o riso soa a forçado. as mãos tremem, temendo o abraço do fim. o desgosto da fuga. porque quando nos ausentamos, fugimos. fugimos de maleitas invisíveis e de sonhos quebrados. na ausência fugimos. 

bebe-se sangue negro em goladas afiadas. as veias entopem-se, o sangue é, lascivamente, venenoso. o coração aperta, é o mais silencioso. o corpo sincineseia todo sem querermos. ao tão estridente compasso da amargura. 

a ausência fere. mais que o desaparecimento do nosso por do sol. mais do que promessas por cumprir. mais do que o vazio que deixámos. 
a ausência fere. e o pior de tudo é que, desejando-te de volta, as pernas prendem-me. não consigo ir. cobardias. 
ausências acobardiam-me. 


ph: giulio musardo



desculpa.
por favor, lembra-te do nosso esconderijo. estou lá. sempre. 
à tua espera. vem que preciso de ti. ainda que os nossos corpos se estranhem, as almas precisam de se abraçar. é nelas que está a alquimia.

19 de agosto de 2014

gosto de ti porque me deixas

gosto de ti porque me deixas partilhar.
gosto de ti porque me deixas viver.
gosto de ti porque me deixas apaixonar.
gosto de ti porque me deixas ser feliz.


ph: martin valentin fuchs

gosto de ti, e não porque me deixaste. 
há uma parte de mim que gosta de ti: a maior.


6 de julho de 2014

aos domingos de manhã sabes-me a ti.

hoje.
hoje mais simples.
hoje mais.
hoje mais simplesmente.


ph: jose gabriel


o ólafur tem-te na entranhas. na pele. 
no olhar.
aos domingos de manhã. à claridade da janela. 
à tua tão beleza. 
aos recantos de ti. 
nos recantos de uma beleza tão fina. 
tão macia. tão bela. 
vales-te nas bonomias.
no sorriso que me desarma.

ao domingo de manhã gosto sempre mais de ti.
adoro estar na tua cama, a mirar-te à janela. 
sabes tão bem estar sereno. simples. belo.
sabes tão bem estar a sorrir. alegre. macio.

hoje apaixonei-me mais um bocadinho por ti. 
quero domingos de manhã. quero contemplar-te. 
sabes-me a abraços. a liberdade. sabes-me a mar. a tão mar. a brisa fresca. 
sabes-me a ti.   
   

25 de maio de 2014

- diz-me porque gostas das estrelas.





- acho que apenas gosto. gosto de as imaginar redondas. assim como as pintas que vemos quando as olhamos cá de baixo. gosto de pensar que elas apenas brilham. para nós. assim como nós temos um coração que bombeia o sangue, elas têm um pirilampo a bombardear-se lá dentro. gosto de pensar que assim é. gosto de pensar que os homens quando morrem se transformam em pirilampos. afinal não dizem que as pessoas quando morrem olham por nós lá de cima? é nas estrelas. eu sei. quando morremos não viramos pó nem ossos. nem almas. apenas nos reduzimos a pirilampos. as estrelas roubam-nos. e como somos nós, enquanto pirilampos, que alimentamos as estrelas, é por isso que se diz que as pessoas nos olham lá de cima. abdicam do paraíso para se explodirem dentro das estrelas. 
- oh... como sabes isso?
- um dia sonhei que somos humanos. e que os nossos corações nos valem o amor. e que nunca deixamos de amar. nem de olhar por quem gostamos.  

15 de março de 2014

ph: robby cavanaugh


      - como é ser-se o mau?
      - é mau, mas melhor que não ser.

      - (...) esta coisa de mexer tão pouco e de ser tão pouco sôfrego... sou apaixonado pelas coisas que me desarmam. mas não sei onde agarrar e onde deixar ir. onde começa a maldade?
      - deves viver a tua vida enquanto podes. aproveitar. é mais fácil fazer sofrer  do que sofrer.
     - não nasci para fazer sofrer. e muito menos para sofrer. acho que nasci só para viver. posso?

11 de março de 2014



estudos nos últimos anos provam que a única via de segurança e felicidade 
que o ser humano tem é a proximidade com os outros.

5 de fevereiro de 2014

amar


mas afinal, o que é amar?


ph: collin mcadoo


talvez amar não seja somente ter-se. ou dar-se.
talvez amar não seja algo. algo que se tem ou não. que se consegue ou não. 
talvez amar seja o máximo que vais conseguindo. nos 'hoje'. amas hoje assim. enquanto nao encontrares 'mais amor'. amas assim amanhã. e vais amando assim até que haja mais amor.

3 de janeiro de 2014

flores amarelas

quando aceitamos a dor, ela torna-se mais limpa. com menos nódulos.
embora ainda custe. muito. dói-me porque não fui eu que (te) escolhi. eu apenas me rendi, deixei que os sonhos te incluíssem. deixei-me dividir. deixei a porta aberta. e guardei a melhor sala para te receber. 
ainda que a medo. medo das vulnerabilidades. medo de mim. medo de um eu, completamente novo, com um lugar para partilhar.
dói quando foi o coração a escolher(-te) e o mundo te roubou. dói que as flores tenham ficado com um amarelo mais carregado, não fosse a cor da amargura. revolta-me que as flores tenham perdido a cor vermelha. aliás, sabes como me revoltam as injustiças no amor. sabes o quanto me fere a ausência. o quanto acho desumano. 
desumano.

ph: alex stoddard


mas aceito. ainda que não consiga falar com tanta coisa que engoli. não do que não te disse, mas do mundo que te roubou. 
mas aceito. ainda que chore todos os dias. 
mas aceito. embora nem sempre pareça. 
e continuo a gostar de ti. ainda que o mundo nos roube isto, que as flores nos sejam amarelas, eu gosto de ti.
levo comigo o que consegui de ti. e fiz tatuagens daquilo que nos une.

hoje escrevi pequenino. assim só porque quis. na tentativa que, vendo-se menos, doa menos. (em vão.)
hoje escrevi com uma tranquilidade que desconhecia. uma tranquilidade que se sobrepõe ao quanto sangro por dentro. porque talvez assim ainda eu dure o tempo suficiente para te dizer que gosto de ti. não quero nada. aliás, quero pouco. quero só que não te esqueças que não fui eu que te escolhi. foi o coração.