27 de dezembro de 2012

mutatis mutandis


não sei a quantas ando. ando perdido a milhas de distância de mim. perdi-me aturdido, vestindo lassidão e comendo saudade. sabia-me às entranhas mais ácidas: húmidas, quentes e leves. enevoava-me os olhos, névoa onde as lágrimas se perderam.
perdi-me porque me sentia exíguo e pusilânime. a tua argúcia tornou-me assim. sempre me decifraste melhor que ninguém, sempre soubeste onde estavam as minhas costuras. ajudaste-me a fazer as tatuagens para esconder os meus sinais da vida, as minhas sardas denunciadoras. dei-te a melhor cama no zimbório, entre as estrela e o meu palácio. tem a melhor vista: para o mundo lá fora e para o meu mundo.
e agora?
foste o meu melhor aprendiz, nunca o neguei. agora sabes o quanto a humanidade se sustenta de purezas escuras e de luxúrias bonómicas. e deixaste-te seduzir pelos pigmeus lascivos e devassos. eles são mestres nas vinganças e nos boomerangs. presumo que te saiba a doce munir-te do que levaste de mim e usar contra os esquecidos.



não tenho moral. também eu perdi a humanidade. encontrei refúgio com Crio. apesar de nadar num oceano cor de ébano que me suga de tão denso e de me triturar a alma, os olhos sorriem-me porque durmo em poltronas e não tenho forma. aqui o tempo bate devagar e badaladosamente. ainda que as paredes careçam de estruturas, é incrível como cada divisão é cabalmente construída. 
não sei quando voltarei. ou quando voltarás. agora tens escudos fortes, mas eu também te cuspo. nesta terra do nada, são os tudos que me sustentam.

e não, não és indefetível, lamento. lamento?