21 de setembro de 2012

diário de crenças

experiência do terapeuta: aqui está outra pessoa, o meu paciente. sinto um pouco de receio por ele, medo de penetrar nos seus pensamentos, tal como tenho medo de mergulhar nos meus. no entanto, ao escutá-lo, começo a sentir um certo respeito por ele, a sentir que somos próximos. pressinto quão terrível se lhe afigura o seu universo, com que tensão procura controlá-lo. gostaria de apreender os seus sentimentos e que ele soubesse que eu os compreendo. gostaria que ele soubesse que estou perto dele no seu pequeno mundo compacto e apertado, capaz de olhar para esse mundo sem excessivo temor. talvez eu o possa tornar menos temível. gostaria que os meus sentimentos nesta relação fossem para ele tão evidentes e claros quanto possível, a fim de que ele os captasse como uma realidade discernível a que pode regressar sempre. gostaria de acompanhá-lo nessa temerosa viagem ao interior de si mesmo, no seio do medo nele fixado, do ódio, do amor pelo qual ele nunca foi capaz de se deixar invadir. reconheço que é uma viagem muito humana e imprevisível, tanto para mim como para ele e que eu me arrisco, sem mesmo saber que tenho medo, a fechar-me em mim próprio perante certos sentimentos que ele revela. sei que isso me impõe limites na minha capacidade de ajudar. torno-me consciente de que os meus próprios temores podem levá-lo a encarar-me como um intruso, como alguém indiferente e que deve rejeitar, como alguém que não compreende. tento aceitar plenamente esses seus sentimentos, embora esperando também que os meus próprios sentimentos se revelem de maneira tão clara na sua realidade que, com o tempo, ele não possa deixar de se aperceber deles. mas, sobretudo, pretendo que ele veja em mim uma pessoa real. não tenho necessidade de perguntar a mim mesmo com constrangimento se os meus sentimentos são terapêuticos. o que eu sou e aquilo que sinto pode perfeitamente servir de base para a terapia, se eu puder ser transparentemente o que sou e o que sinto nas minhas relações com ele. então talvez ele possa ser aquilo que é, abertamente e sem receio.
carls rogers, tornar-se pessoa.

- como diz o notável lobo antunes(, a.) os livros ou se apanham ou não. e este apanhou-me. ou apanhei-o eu? o mais surpreendente é que este livro (até ver) é o diário das minhas crenças. sim, é nisto que acredito. com todo de mim.



hey! hey! 
- mais humanidade, por favor,


6 de setembro de 2012

algures,

encontrei isto algures. por acaso. e hoje, sarado, sorrio. 
é assim. de facto.

« há coisas que queremos que aconteçam. mas temos de aceitar. há coisas que não queremos saber. mas temos de aprender.
e as pessoas sem as quais não podemos viver. mas temos de deixar. »



precisamos de valetas para levarem as nossas mágoas. apodrecemos ao tentá-las empurrar. teimam não ir. malditas.
é quando aceitamos que nada volta, quando nos lembramos que as estrelas brilham para sempre e quando nos sentamos ao lado das feridas, com um sorriso, tratando-as que deixamos de andar zangados e, finalmente, entendemos. entendemos. entendemos que só se trilha o mesmo caminho uma vez, entendemos que vivemos a superar. e então, ao caminhar à luz dos pirilampos descobrimos que a noite também é dia e que são as lágrimas de satisfação que empurram as mágoas pela valeta abaixo. vitória(s).
vou levar o melhor, embrulhado num rolo debaixo do braço. para quando me sentar nos bancos daquele jardim, ler e perceber que a felicidade anda às voltas e voltas (no tempo) e que não perdi nada. nem deixei escapar. desfrutei quando tive de desfrutar e foi somente, só, a perfeição.
tenho em mim todos os sonhos do mundo. e guiado por eles conseguirei alcançar a outra ponta das estrelas. sei que há coisas que estão cosidas, apenas, sob a minha pele e, por isso, só eu as sei. só eu as posso reconhecer.

deixo escrito. deixo gravado.
2010